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DISCURSO DA ALUNA MARGARIDA MALPIQUE NA SESSÃO DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL EVOCATIVA DO 49.º ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL DE 1974

DISCURSO DA ALUNA MARGARIDA MALPIQUE NA SESSÃO DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL EVOCATIVA DO 49.º ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL DE 1974

 

"Liberdade

Olá, muito bom dia a todos a todos os presentes. É com muito gosto e muita honra que aqui estou hoje. Hoje, em que se comemora mais um aniversário da revolução de 25 de abril, não há tema mais importante a retratar senão a liberdade. Liberdade. O que é essa liberdade, que estamos tão seguros de ter agora neste século XVII?

Bem, por esta há já 49, o Movimento das Forças Armadas entrava em ação para tentar derrubar a ditadura salazarista. E foi a partir desse dia que Portugal se tornou mais livre.

Antes do dia 25 de abril de 1974, todos os jovens do sexo masculino eram obrigados a servir durante quatro anos, sendo dois deles obrigatoriamente em guerra. Eram, frequentemente, esses jovens militares, enviados para o continente africano e para a guerra colonial.

As pessoas casadas pela Igreja não se podiam divorciar antes desta revolução. E havia uma polícia política, a PIDE, que como muito bem vocês sabem e até melhor do que eu, perseguia, prendia e até viria a executar quaisquer opressores ao regime do Estado Novo.

Vários são os relatos que descrevem esta revolução como pacífica e sem violência, mas a verdade é que a cor vermelha com que normalmente representamos esta revolução, não se deve só aos cravos que estavam nas armas dos militares. A queda da Polícia Internacional de Defesa do Estado, a PIDE, deveu-se principalmente aos assassinatos e às mortes que causara.

Seria mentira dizer que o conflito foi extremamente violento, mas também o seria dizer que foi pura sorte. Há meses e até anos que os portugueses descontentes ansiavam pela liberdade.

A liberdade que eles viam nos livros, nos jornais e nas revistas, que vinham do estrangeiro, já que eram proibidos no nosso país pela censura; e da qual essa liberdade não se podia falar. A liberdade que as pessoas portuguesas ao saírem para o estrangeiro, para fugirem às autoridades, que ao regressarem, falavam dela.

Falavam dessa liberdade e traziam ideias inovadores e diferentes do regime da época. Ideias e princípios em que todos os membros da sociedade eram completamente ouvidos e respeitados. Essas deias e princípios não seriam nada mais nada menos do que os que constituem uma democracia, que mais tarde, no nosso país se viria a instalar.

O Estado Novo foi abaixo, e com isso, os direitos dos portugueses vieram ao de cima. O divórcio alargou-se a todos os portugueses; homens e mulheres, a partir dos 18 anos, foram permitidos votar livremente, com ou sem o secundário concluído ou qualquer tipo de formação. O serviço militar deixou de ser obrigatório e aboliu-se a censura nos meios de comunicação.

Todos nós, portugueses, após esta revolução, passamos a ter liberdade. Liberdade de opinião, de expressão. Liberdade de informação e de manifestação.

Nos anos seguintes à revolução, deu-se a criação de hospitais, de centros de saúde pública; a criação de escolas, passando o ensino obrigatório de 4 a 9 e depois a 12 anos. Deu-se a recuperação de bibliotecas municipais, de espaços culturais como estes, e de universidades. Construíram-se redes de estradas e autoestradas, que facilitaram o deslocamento das populações e deu-se a chegada da eletricidade e da água canalizada a toda a parte.

E, principalmente, a 2 de abril de 1976, quase dois anos após esta revolução, deu-se a aprovação da Constituição da República Portuguesa, que consagra, até hoje, a igualdade de todos os cidadãos perante a lei.

Depois da revolução de 25 de abril, que faz hoje quase meio século de história, muitas foram as coisas que mudaram. E, a meu ver, todos deveríamos agradecer.

Deveríamos agradecer àqueles que, mesmo pondo as suas vidas em risco, continuaram a conspirar e a confrontar a ditadura de Salazar. Deveríamos agradecer também às pessoas que não desistiram e foram espalhando as suas ideias e princípios democráticos por toda a população portuguesa e pelas entidades militares.

A essas mesmo, a essas próprias entidades militares era a quem deveríamos agradecer. Principalmente, ao Movimento das Forças Armadas, a todos os seus constituintes e apoiantes, que deram e contribuíram para o sucesso desta revolução; esses mesmos que não deram o braço a torcer, e que mesmo depois de várias tentativas e golpes falhados, continuaram a lutar.

E, por fim, mas não menos importante, peço-vos que reflitam, e é por isso que também aqui estou hoje. São precisas comemorações e feriados como estes para pensarmos em como deveríamos agradecer por todos sermos livres. Liberdade. Obrigada."

 

Maria Margarida Malpique Duarte Alves, “Liberdade”

25 de abril de 2023, Casa da Cultura – Teatro Stephens